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Novas facetas dos destinos no mundo pós-pandemia

Foto: Piviso / Pixabay
Com a volta de atividades, os destinos se preparam para retorno gradual dos eventos

Publicado em 08/06/2020

Em 2019, o mercado de viagens e eventos corporativos movimentou R$ 75,9 bilhões. Com um crescimento de 4% em relação a 2018, segundo dados da Pesquisa Conjuntural de Viagens Corporativas (PCVC), divulgado pela Associação Latino Americana de Gestores de Eventos e Viagens Corporativas (Alagev).

Segundo o levantamento, no final do ano passado, a variação foi de 2,2%, o que demonstrava uma positiva prospecção, pois é o período que costuma ser menos focado em viagens corporativas e mais em lazer. No entanto, a chegada da pandemia causada pelo novo coronavírus veio para mudar completamente o cenário mundial, atingindo em cheio o mercado de turismo, paralisando, quase que completamente, as atividades turísticas relacionadas ao turismo de negócios e lazer.

De acordo com pesquisa publicada pela Organização Mundial de Turismo (OMT), após meses de bloqueios, os países estão aos poucos começando a diminuir restrições de viagens, adotadas para impedir a propagação da COVID-19. Na quarta edição do documento “Restrições de viagem devido à COVID-19: Uma revisão global para o turismo“, a agência especializada da ONU analisa medidas adotadas por 217 destinos em todo o mundo, a partir de 18 de maio.

O relatório constata que 3% de todos os destinos tomaram medidas para aliviar as restrições. Sete destinos diminuíram as restrições para fins de turismo internacional, enquanto vários outros estão envolvidos em discussões sobre a reabertura de fronteiras. A análise constata que 100% de todos os destinos em todo o mundo continuam a ter algumas restrições de viagem devido à COVID-19; 75% ainda estão completamente fechados ao turismo internacional. Em 37% de todos os casos, há restrições há dez semanas, enquanto 24% mantêm controles há 14 semanas ou mais.

Em todas as regiões da Organização Mundial do Turismo (OMT), mais de 65% dos destinos permanecem completamente fechados ao turismo: África (74%), Américas (86%), Ásia e Pacífico (67%), Europa (74%) e Oriente Médio (69%).

O secretário-geral da OMT, Zurab Pololikashvili, enfatizou “a necessidade de vigilância, responsabilidade e cooperação internacional à medida que o mundo se abre lentamente de novo”.

Gisele Abrahão - retomada destibos
Gisele Abrahão
Foto : Assessoria

Para Gisele Abrahão, diretora da Global Vision Access, o mundo pós-pandemia vai mudar de formas diferentes, e destinos com foco em natureza e bem-estar, seguros e que pratiquem o turismo responsável, serão mais escolhidos pelos viajantes. Lugares que costumam ser menos visitados também devem ganhar destaque, já que não há grandes aglomerações de pessoas.

“Os destinos e parceiros locais precisam se preparar para receber essas pessoas e garantir sua segurança. Os próprios aeroportos e entrada nos países, deverão exigir novos procedimentos para ter certeza que os passageiros estão saudáveis. Mas tudo isso é só uma questão de adaptação da indústria e dos passageiros. Tenho certeza que após ficarmos tanto tempo confinados em casa, quando for seguro novamente, as pessoas irão viajar mais do que nunca, seja para um local próximo ou do outro lado do planeta. O mundo pós-pandemia será feito de pessoas com muita vontade de sair de casa e descobrir o que ele tem de melhor. Os destinos precisam estar preparados para oferecer experiências incríveis e muita segurança a elas”, opina.

Expectativas para a retomada das atividades nos destinos

O estado de São Paulo recebe mais de 90 mil eventos por ano; sedia 75% do mercado brasileiro de feiras de negócios; o impacto econômico das Feiras de Negócios na cidade é de R$16,3 bilhões ao ano.

Habituado aos grandes números, o estado paulista também é o epicentro da doença no país, com o maior número de casos e mortes pela doença. O governador João Doria anunciou na semana passada, o plano de reabertura comercial para o estado de São Paulo.

A decisão pela retomada, no entanto, não significa o fim da quarentena no estado, que acabaria em 1º de junho. Ela foi prorrogada por mais 15 dias e a partir desta data, deve ser iniciada por regiões proporcionalmente menos afetadas pela doença, de forma gradual e heterogênea, segundo o plano apresentado.

Toni Sando, presidente do Visite São Paulo, evita fazer previsões sobre um cenário pós-pandemia e acredita que este cenário será criado a partir do resultado das medidas de retomada, da própria evolução da doença e das formas de enfrentamento. 

Toni Sando - retomada destinos
Toni Sando
Foto: André Stefano

“É preciso evitar um discurso de futurologia, tanto para não gerar falsas expectativas, quanto para não ser pessimista demasiadamente. Antes de entender como será um destino pós-pandemia, é preciso analisar como os destinos estão enfrentando a paralisação generalizada e como se comportará no que está sendo chamado de “normal controlado”, que é a retomada da economia ainda com o convívio do vírus. De forma interna, é possível fazer previsões a partir dos protocolos que estão sendo criados para cada atividade econômica. Há diversos pontos em comum que se tornarão ordinários, como higiene mais reforçada, distanciamento, comunicação sem toque e totalmente digital, uso de máscaras, capacidade de atendimento limitado etc. No exterior, já vemos casos de destinos em retomada que podemos tomar como exemplo na abertura de restaurantes, museus e demais atrativos. A participação do poder público e organização da iniciativa privada também serão fundamentais, na criação de um ambiente favorável tanto aos empresários quanto aos visitantes e população”, analisa.

No mundo pós-pandemia, estima-se que, quando as pessoas voltarem a viajar, seja a negócios ou lazer, estejam mais conscientes da importância da adoção de novos hábitos sanitários e comportamentos individuais que serão fundamentais para evitar o surgimento de novos casos de coronavírus, até que se tenha uma vacina definitiva.

Inicialmente, a tendência é que as pessoas busquem por viagens mais curtas, destinos regionais e com menor distância e que a segurança sanitária seja um fator importante na escolha do lugar.

Para Toni Sando, os destinos devem estar alinhados com os protocolos vigentes e oficiais. “No geral, entende-se que será preciso de muita comunicação das medidas, atualização para serviços digitais, como reservas em locais fechados e controle de lotação em locais abertos, mas de grande circulação de pessoas; facilitação para o distanciamento social e fiscalização na higienização e uso de máscaras. O engajamento das equipes internas será essencial, assim como a comunicação com o público final”, avalia.

Gisele Abrahão, defende que é preciso uma união da indústria do setor e governos, para definir novos procedimentos e retomar as atividades de forma segura para todos os participantes. “É necessário achar algumas alternativas, começando por exemplo por eventos drive-in e digitais, que já estão acontecendo em várias partes do mundo. E em um segundo momento, que os próprios organizadores deixem bem claro aos participantes quais são as condutas e medidas de segurança, como informativos de como cumprimentar de forma segura as pessoas, técnicas de afastamento social, impedir aglomerações, oferecer máscara e álcool-gel, fazer uma limpeza frequente, distanciar cadeiras e poltronas”, sugere.

Jair Aguiar Neto - destinos retomada
Jair Aguiar Neto
Foto: Assessoria

“Agora, a união de toda a cadeia produtiva do turismo para que toda a experiência do visitante seja segura é fundamental. Protocolos de segurança sanitária bem definidos e uma comunicação clara sobre esses protocolos também serão essenciais”, opina Jair Aguiar Neto, presidente do Belo Horizonte Convention e Visitors Bureau.

Setor de eventos – fundamental para a retomada do turismo

Em uma live realizada com empresários do setor, o Ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio afirmou que os turismos de negócios e de eventos terão um papel de destaque na retomada do turismo, e consequentemente, na economia.

Fonte: Ministério do Turismo

O órgão criou a campanha “Não cancele, remarque!”, que busca proporcionar a manutenção de pacotes e serviços contratados e garantir a preservação de empregos. A Pasta também lançou o selo “Turista Protegido”, primeira etapa de um programa que criará protocolos de segurança sanitária e de boas práticas para cada um dos segmentos do setor. O selo integra o Plano de Retomada do Turismo Brasileiro, coordenado pelo MTur, que busca minimizar efeitos da Covid-19 e preparar o setor para um retorno gradual.

Toni Sando acredita que no turismo de negócios, o retorno das viagens se dará em momentos muito estratégicos e de grande importância – mas ainda ocorrerão. “Neste período de quarentena aprendemos muito sobre o desafio que estamos vivendo, com propriedade e local de fala. Estamos vivenciando o sucesso do home office e das conferências digitais. Em eventos, percebemos que os encontros digitais não suprem 100% de seus objetivos, uma vez que o contato presencial é essencial para fechar negócios, conhecer as novidades e tendências de um setor e realizar networking; então, assim que viável, os congressos e feiras voltarão, reformulados e híbridos”, opina.

Para Gisele Abrahão, o fato de as pessoas terem passado muito tempo em casa, levará a uma expectativa muito alta em relação às viagens. “Os destinos precisam se preparar para atender todos estes sonhos com excelência, segurança e oferecer experiências que superem as expectativas”, comenta.

Para garantir a segurança, Gisele defende que os destinos e parceiros locais precisarão treinar os funcionários para que se adaptem aos novos procedimentos, implementar novas medidas sanitárias, fazer a limpeza dos locais com mais frequência, usar máscaras e outros equipamentos enquanto não houver uma vacina, garantir o distanciamento social e número máximo de pessoas em lugares fechados. E que para superar as expectativas dos viajantes, cada destino precisará se reinventar, “sair da casinha” e criar experiências únicas para os passageiros.

“Acredito que há dois focos que precisam ser desenvolvidos: o primeiro é o foco da natureza, de ambientes naturais preservados, de destinos envolvidos em projetos de conservação e proteção. Depois de meses fazendo videoconferências, lives e se comunicando apenas por telas, muitas pessoas vão querer fazer um “detox” da tecnologia e se conectar mais com elas mesmas e com o mundo. Será necessário focar no mundo real, não no digital. O segundo é o foco da autenticidade, das experiências culturais. Muitos viajantes vão procurar atividades que não poderiam encontrar na própria cidade. Eles vão querer descobrir coisas novas, culturas diferentes, aprender com os costumes locais, etc. Quanto mais o destino envolver e desenvolver sua própria comunidade, mais autênticas serão as experiências. E é também uma forma de praticar o turismo responsável”, analisa.

Foto: Ryan Guire /Pixabay

Jair Aguiar Neto enfatiza que os destinos precisarão unir forças entre iniciativas públicas e privadas para permanecerem competitivos. “Estamos vivendo uma mudança de hábitos que estão indo de encontro a tendência touchless. A pandemia nos traz uma necessidade de adaptação acelerada na busca por tecnologias e novas soluções que se tornarão indispensáveis para as pessoas voltarem a viajar”, opina.

Para Toni Sando, o setor precisa sair da crise com energia para a retomada. Para tanto, são necessárias medidas fortes para a manutenção dos empregos e da atividade.

“A ampliação da MP 936 é um dos caminhos essenciais, para que a cadeia produtiva ganhe um fôlego. Nesta paralisação, pudemos comprovar ainda mais a importância da realização dos eventos. O retorno, que será aos poucos, precisará estrar focado nas possibilidades dentro dos novos protocolos (que vão se tornando mais leves, à medida que se controle a pandemia e se encontre a cura), reimaginando os modelos de negócios para que se torne viável, lucrativo e gerando emprego e renda para a população – como sempre fez”, afirma.

“Cientes do nosso papel nesse mercado, devemos nos preparar muito bem e assim melhor aproveitarmos a retomada, seja ela quando for. Vejo que o “fazer” de agora está no planejamento, na estruturação ou até na reinvenção de nossos processos para positivamente responder às mudanças e novos desafios que teremos pela frente.  Com mais cautela, compreensão, e adaptação com a nova realidade pós-covid, conseguiremos efetivamente reestabelecer nossas atividades e negócios e até mesmo aprimorá-los”, opina Gisele. Jair Aguiar Neto, enfatiza que as autoridades devem olhar com mais sensibilidade e atenção para o setor de eventos. Assim como tem feito com outros setores da economia. “A abertura de um shopping, por exemplo, que recebe 10 mil pessoas não é diferente de uma feira. A isonomia no tratamento é fundamental, mas a insegurança de nossos governantes está nos levando a uma paralisação ainda sem prazo de retorno”, observa.

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