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O futuro é feminino?

Foto: Reprodução/ Adweek
Um panorama sobre o cenário presente e futuro a respeito da representatividade feminina

Oito de março é uma data reconhecida globalmente como o Dia Internacional da Mulher, um dia que celebra as conquistas das mulheres e deve atuar como um chamado à ação para acelerar a equidade de gênero, ou seja, a construção de uma nova consciência social, em que homens e mulheres tenham os mesmos direitos, deveres e oportunidades.

Oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975, a data é celebrada há mais de um século. De lá para cá muito foi conquistado, mas há ainda uma batalha árdua para efetivar mudanças reais em muitas situações em que as mulheres enfrentam no dia a dia, para desconstruir modelos que as inferiorizam, que limitam sua autonomia e que delegam papéis secundários e de dependência.

Em relação ao mercado de trabalho brasileiro, espera-se que até 2030 a participação feminina deva crescer mais que a masculina. É o que indica estudo de 2019 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Mudanças culturais, a conquista de direitos e um maior investimento em educação pelas mulheres explicam essa projeção.

Hoje, muitas mulheres sustentam suas famílias, trabalham em diferentes áreas do mercado e possuem os próprios planos de carreira. Além disso, elas estão sempre em busca de mais qualificação para conseguir vagas de emprego melhores e com mais benefícios.

Segundo o estudo 15ª edição da International Business Report (IBR) – Women in Business 2019, realizado pela Grant Thornton, 93% das empresas do Brasil têm pelo menos uma mulher como líder.

No entanto, no âmbito mundial, a proporção das mulheres em cargos de liderança no país foi para 25%, caindo quatro pontos percentuais em relação a 2018 e saindo da média global que estava em 29%. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, o Brasil ocupa o 95º lugar entre os 144 países com maior equidade de gênero.

Outro estudo global, realizado pelo Instituto Peterson de Economia Internacional, identificou que as companhias com até 30% de liderança feminina tiveram um aumento de 15% em sua rentabilidade. O mesmo estudo constatou que 60% das empresas não têm mulheres em seus Conselhos de Administração, mais de 50% ainda não têm mulheres em cargos de alta liderança e menos de 5% delas têm uma como CEO.

Em relação à presença das mulheres na liderança das empresas, a pesquisa Panorama Mulher 2019, elaborada pela Talenses, destaca que a área de Recursos Humanos é a que mais possui diretoria feminina (23%), seguida por Marketing (14%), Finanças (14%) e Jurídico (11%). O estudo questionou 532 empresas sobre a atuação e a empregabilidade das mulheres em cada setor.

Em consonância com os Princípios de Empoderamento da Mulher da ONU Mulheres, anualmente a Talenses em parceria com o Insper e o apoio institucional da ONU Mulheres realiza a pesquisa visando documentar a evolução da presença feminina nas posições de comando dentro das companhias por meio de números para embasar essa discussão e promover a igualdade de condições no ambiente de trabalho.

ONU Mulheres

“Eu sou a Geração Igualdade: concretizar os direitos das mulheres” é o tema do Dia Internacional das Mulheres da ONU Mulheres para 2020. O mote está alinhado com a nova campanha multigeracional da Organização, Geração Igualdade, que marca o 25º aniversário da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim (PAP). Adotada em 1995, na 4ª Conferência Mundial sobre as Mulheres, a Plataforma é reconhecida como o roteiro mais progressista para o empoderamento de mulheres e meninas no mundo inteiro.

Para a ONU Mulheres, o ano de 2020 é crucial para o avanço da igualdade de gênero em todo o mundo, pois a comunidade global fará um balanço dos progressos alcançados aos direitos das mulheres desde a adoção da PAP. Também marcará vários outros momentos decisivos no movimento de igualdade de gênero: os cinco anos de adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS); o 20º aniversário da resolução 1325 sobre Mulheres, Paz e Segurança do Conselho de Segurança da ONU; e o 10º aniversário de criação da ONU Mulheres.

Em visita ao Brasil, a diretora regional da ONU Mulheres para Américas e Caribe, Maria-Noel Vaeza, pediu mais políticas e investimentos do Brasil pelos direitos das mulheres. Na oportunidade, ela atualizou as autoridades sobre a importância do país se incorporar ao movimento internacional para fazer avançar a resposta à PAP, como parte dos esforços para o alcance dos ODS.

A diretora salientou que esse período de 10 anos, entre 2020 e 2030, é decisivo para que políticas públicas de escala e investimentos contínuos transformem a realidade de mulheres brasileiras e eliminem as desigualdades de gênero, raça e etnia.

“A América Latina continua sendo uma região com desigualdades profundas, que impedem as mulheres na diversidade, especialmente trabalhadoras, negras e indígenas, de acessarem direitos básicos. Os próximos dez anos são decisivos para que as mulheres desta parte do planeta não sejam deixadas para traz do desenvolvimento econômico, social e ambiental. Governos, empresas e sociedade precisam atuar com mais empenho político e recursos financeiros e cumprir a Plataforma de Ação de Pequim”.

De acordo com a ONU Mulheres, nenhum país pode afirmar ter alcançado a igualdade de gênero. “Vários obstáculos permanecem inalterados na lei e na cultura. Mulheres e meninas continuam subvalorizadas; elas trabalham mais e ganham menos e têm menos opções; e experimentam múltiplas formas de violência em casa e em lugares públicos. Além disso, há uma ameaça significativa de reversão de ganhos dos direitos das mulheres duramente conquistados”, diz a nota no site oficial.

O ano de 2020 representa uma oportunidade imperdível de mobilizar ações globais para alcançar a igualdade de gênero e os direitos humanos para todas as mulheres.

Essas mulheres inspiram!

Ainda que em meio a tanta diversidade enfrentada diariamente na luta pela conquista dos seus direitos – não apenas na área profissional, elas provam que o seu lugar é onde elas quiserem.

Através de seus exemplos, muitas são fonte de inspiração para outras mulheres na busca pela concretização de seu posicionamento na sociedade.

A Revista EBS entrevistou três mulheres inspiradoras.

Silvana Torrespresidente da Mark Up

“Cada vez mais as mulheres estão conquistando o seu espaço, ocupando cargos de liderança nas agências. Ainda temos um longo caminho para falar sobre igualdade e equidade, mas, isso já é um caminho sem volta, com certeza. Muito mais do que o sentimento de justiça e igualdade, a participação feminina proporciona diversidade de opiniões e pontos de vista às estratégias com as marcas. Eu levanto a bandeira da causa feminista desde muito tempo. Sempre fui envolvida com isso, sempre tive a sororidade como fonte de inspiração. O empoderamento feminino, por mais que seja um termo ‘batido’, está longe de ser um modismo para mim. Eu, na posição de líder de uma empresa, sinto um privilégio trabalhar com tantas mulheres de diferentes trajetórias e estilo de vida. Poder proporcionar oportunidades para que elas se desenvolvam e avancem profissionalmente, tenham voz e sejam realizadas, é muito gratificante. Existe representatividade feminina no Live Marketing, mas ainda são poucas as mulheres na liderança dos projetos. É um processo em desenvolvimento, ainda temos longo caminho para percorrer. Mas precisamos insistir, persistir e não desistir. Aqui na Mark Up, esse assunto perdura por todos os 356 dias do ano em tudo o que fazemos. Eu me sinto realizada quando contribuo com essa causa tão importante e sinto que o efeito multiplicador das nossas ações, sejam elas internas ou não, vai além da nossa atuação”.

Nina Silva – Executiva de TI, uma das 100 pessoas afrodescendentes com menos de 40 anos mais influentes do mundo e sócia fundadora do Movimento Black Money.

“É muito fácil falar de igualdade de oportunidade, esquecendo que há uma herança patriarcal de separação e de números alarmantes que não trazem o mesmo equilíbrio que nós temos de uma maioria feminina. No Brasil, temos 52% de mulheres enquanto população, mas não temos isso refletido nos cargos de liderança ou nos que normalmente conduzem a estratégia de uma empresa. Quando falamos de mercado de maneira mais estendida vemos que é uma maioria feminina que está desempregada, que possui menos acesso ao crédito nas instituições financeiras, e, globalmente falando, nem 2% recebem investimento em suas empresas. São as que menos estão na Bolsa de Valores e em cargos públicos. Estamos falando diretamente de processo de poder e vejo que esse reequilíbrio não é pensado de maneira acelerada como deveria. Há pelo menos início de diálogo sobre o assunto nas empresas, mas ações efetivas precisam ser mapeadas e, quiçá, legisladas em relação a cargos de liderança. E quando falamos de mulheres negras a realidade é ainda pior, porque raça enquanto estrutura é determinante para a desigualdade social no Brasil. Então, o racismo estrutural faz com que mulheres negras estejam em patamar até menor de acessibilidade do que de mulheres brancas. A desigualdade para a equidade racial não é nem ao menos discutida como questão de gênero e precisamos pontuar todas as feridas que até hoje são legados históricos”.

Malu Sevieri – Diretora Geral da Emme Intermediações de Negócios

“Mulher e homem são diferentes e são tratados diferentes; e isso não temos como negar. Mas acredito que duas coisas são essenciais: a primeira é exigir as mesmas condições de trabalho para ambos e depois cobrar da mesma forma as responsabilidades e entregas. Não pode ser diferente de um lado e nem do outro. Dizem que as mulheres em geral têm algumas habilidades que homens não conseguem fazer com tanta maestria, como ser multitasking, atenciosa, organizada, memória mais assertiva, entre outras. Para quem trabalha com eventos isso é um belo diferencial que eu uso ao máximo ao meu favor e aconselho as colegas a fazer o mesmo”.

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