Outdoor training: desenvolvimento profissional e pessoal ao ar livre
Para sair da zona de conforto, empresas apostam em treinamentos que misturam esportes e estratégiaDesde que o mundo é mundo a humanidade depende de recursos naturais e cooperação entre membros da sociedade para sobreviver. O trabalho em equipe sempre foi essencial para a evolução não apenas dos homens, mas de outras espécies de animais que adotam o mesmo sistema em seus grupos.
O mundo corporativo vem sofrendo uma série de mudanças comportamentais nos últimos anos. A maneira como prestadores de serviços e marcas se relacionam com seus clientes está em fase de transformação e internamente isso não é diferente. A convivência entre gestor e colaborador também vem tomando novos rumos, abrindo novos leques de possibilidade de interação e aprendizagem.
O setor de recursos humanos ganhou um protagonismo nunca antes visto, assumindo um papel efetivo nas empresas. Gerir o relacionamento interpessoal entre os funcionários, promover maior qualidade de vida e novos meios de engajamento nas tarefas são alguns dos pontos que se sobressaem nas novas culturas corporativas.
Os modelos antigos de educação e treinamentos, por exemplo, já não mostram resultados assertivos. Tirar os colaboradores e líderes da zona de conforto e explorar seus pontos fortes, além de identificar dificuldades são alguns dos benefícios do Outdoor Training, ou treinamento ao ar livre – método cada vez mais utilizado pelos departamentos de recursos humanos de grandes companhias.
Oferecer um expediente disruptivo e em contato com a natureza além de promover maior qualidade de vida aos funcionários também vem se mostrando extremamente eficaz na formação e aperfeiçoamento de equipes. “Acredito que o simples fato de tirar os colaboradores da empresa de sua zona de conforto, levando para um ambiente externo e de contato com a natureza, já promove reflexões nos indivíduos. Quando trabalhamos conceitos de forma lúdica e natural, a retenção das informações e posterior atuação em relação a eles, é muito mais efetiva”, explica Giancarlo Valias, sócio-diretor da Venturas Empresarial, empresa especializada em vivências outdoor.
A raiz do treinamento
É difícil dizer quando o método surgiu, mas suas inspirações são muitas. Baseado em atividades escoteiras do Reino Unido, podemos ver muitas semelhanças com o treinamento de equipes também do exército a partir da Segunda Guerra Mundial. Com a criação da Outward Bound, empresa pioneira em desenvolvimento socioemocional em experiências desafiadoras na natureza nos anos 40, o Outdoor Training começou a ganhar espaço no exterior.
Trazida ao Brasil dos Estados Unidos na década de 90, a metodologia gerou grandes mudanças na maneira de pensar e construir um treinamento. Técnicas como Andragogia Lúdica, Action Learning, Team Building e Psicologia são alinhadas dando forma às atividades que exploram todo o potencial de uma equipe.
Relação ganha-ganha
Quando todos estão envolvidos, todos são beneficiados. Independentemente da posição hierárquica que o participante ocupa dentro da empresa, todos passam a compreender melhor seu papel dentro da equipe e quais aspectos devem ser valorizados ou melhorados para gerar resultados mais satisfatórios. “Ambos podem perceber habilidades que não conheciam, comportamentos que são importantes para o ambiente empresarial e, muitas vezes, não são valorizados além do estreitamento de laços entre colaboradores. Melhora o ambiente e aproxima as pessoas. Todos ganham!”, diz Giancarlo.
“O primeiro grande benefício é o fato da mudança de cultura, onde a equipe já compreende que está havendo um investimento nas pessoas. A partir disso, podemos responder com uma célebre frase do magnífico Confúcio: “Conte-me e eu esqueço. Mostre-me e eu apenas me lembro. Envolva-me e eu compreendo”. Somos seletivos por natureza, o que nos faz descartar muitas coisas que só passam a frente dos nossos olhos ou entram em nossos ouvidos”, comenta Rodrigo Fernandes, um dos sócios da Meta Treinamentos, empresa de Outdoor Training. “Todavia, o Outdoor Training nos coloca em posição de protagonistas, ou seja, por meio da ludicidade do treinamento ao ar livre, nos envolvemos no processo por inteiro. E quando estamos envolvidos de “corpo e alma”, inevitavelmente levaremos essa vivência para sempre”.
Na prática
“Buscar excelência nas relações pessoais, lapidar especialidades, localizar lideranças e estabelecer alianças. O indivíduo e os grupos são estimulados a desenvolver habilidades como: criatividade, visão sistêmica, comunicação, flexibilidade, liderança, integração, destemor, arrojo e solução de problemas, negociação, foco, persistência, etc”, explica Keko Garbelotto da TDA – Trekking das Águas Rafting &Expedições. Trabalhar esses pontos na prática, com leveza e adrenalina são os grandes diferenciais do método que ganha cada vez mais adeptos no mundo corporativo.
Entre as atividades mais procuradas por empresas estão o rafting e provas de orientação como o Enduro a Pé. “As atividades promovem grande integração do grupo participante. Ao final, todos saem mais motivados, integrados e com a percepção viva de que planejamento, união, comunicação, tomadas de decisão clara são essenciais para que um grupo funcione bem junto”, diz Vivian Cunha da Alaya, empresa localizada em Brotas, uma das cidades mais procuradas para a prática de Outdoor Training e esportes radicais do país.
Se engana quem acredita que uma atividade de treinamento é conduzida como outra qualquer. Criar vivências que cutuquem as feridas e estimulem os pontos certos exigem um planejamento minucioso realizado por profissionais que entendam do assunto. “A metodologia do Outdoor Training é dividida em três etapas: avaliação da necessidade da equipe, vivência das atividades ao ar livre e devolutiva técnica”, explica Vivian. “Uma reunião com o líder da empresa é necessária para que todas as atividades propostas no treinamento sejam montadas de forma personalizada e evidenciando as particularidades de cada treinamento. O Rafting Empresarial, por exemplo, busca fortalecer a união, integração, comunicação e a liderança entre as pessoas que estão juntas no mesmo bote”.
“Após o diagnóstico e a escolha das atividades, parte-se a campo. Nesta etapa da metodologia, o facilitador e os condutores colocam em prática a vivência escolhida. As atividades ao ar livre podem compor um programa de um dia ou mais dependendo do tempo e dos objetivos de cada empresa. A Devolutiva Técnica acontece em sala e é onde essa poderosa ferramenta de treinamento fecha o ciclo de aprendizado”, pontua Vivian.
Os resultados
“É inexistente a possibilidade de ganho em capacitação, seja ela qual for, se o participante não estiver “convencido” de que ele precisa ser a melhor versão dele e para ele. Assim como um dependente químico, o participante precisa ter a compreensão de que a principal motivação para se capacitar é o ganho para si próprio”, comenta o sócio da Meta Treinamentos. “Não precisa fazer ou abster-se de algo, por alguém ou por uma empresa, mas sim porque é o melhor para si. Quando ele se convence disso, o ganha se torna instantâneo e real”.
Em 2003, a Universidade de Harvard realizou uma pesquisa com o intuito de comparar o Outdoor Training com outros métodos de aprendizagem. Os pesquisadores promoveram um encontro entre alunos que participavam de um jogo de negócios visando conhecer as preferências em relação a diferentes metodologias como, por exemplo: leitura, material audiovisual, palestras, etc. Em relação a maioria das outras categorias, o treinamento ao ar livre teve preferência de 80% dos voluntários da simulação.
Os contextos em que o mercado corporativo está inserido e as demandas exigidas no dia a dia devido a competitividade pedem métodos que tragam resultados assertivos em pouco tempo e que seja adaptável a cultura das grandes empresas e instituições. Segundo a universidade, as principais razões para o resultado foram: interação com outros membros da equipe, troca de experiências, participação nas decisões tomadas e realização de competências coletivas.
Com o Outdoor Training, rompemos padrões aos quais estamos acostumados podendo ampliar nossos mapas mentais eliminando fatores que desviam a nossa atenção diariamente. Dessa forma, conseguimos focar em nós mesmos, nossos defeitos e qualidades. As grandes mudanças começam no âmago de cada um individualmente e todos esses aspectos são encontrados na metodologia do Ser, Pensar e Fazer.
Tendência no mercado
A cultura da valorização do colaborador é um aspecto do mercado que veio para ficar. Ações que contribuam para o engajamento e crescimento dos funcionários estão aquecidas e quanto mais inusitadas e disruptivas, melhor. “Quando o gestor compreende que o seu maior patrimônio, são as pessoas, e que elas são seres humanos, que choram, que possuem problemas de saúde/financeiro/familiar, chegarão a conclusão de que toda a técnica vai para o ralo quando o emocional não vai bem. Logo, a melhor e insuperável forma para desenvolver, treinar e qualificar essas pessoas de forma contundente e residual a médio e longo prazo, é a técnica que os envolve, o treinamento vivencial”, pontua Rodrigo.
“A tecnologia vem evoluindo muito rápido (e criando alguns “casulos”), mas as pessoas serão sempre o principal ativo das empresas. Melhoria das relações, trabalho em equipe, capacidade de adaptação, comunicação eficiente todos são conceitos extremamente bem trabalhados em uma atividade outdoor”, diz Giancarlo.
A metodologia é o ponto de partida para outros meios e técnicas de aprendizagem que podem surgir futuramente. Descomprimir a rotina corporativa é uma das chaves para um melhor rendimento das empresas com as mudanças de comportamentos geracionais. Os funcionários que estão ocupando as novas vagas do mercado, os Millennials, já mostraram que não rendem e nem se adaptam, ou melhor, não se realizam com modelos tradicionais de treinamento, educação e gestão. “O fato é que todos estão cansados de palestras exaustivas, pautadas em mesmices e sem relevância assertiva para o resultado”, afirma Rodrigo. “O melhor resultado em capacitação humana para quem acredita e investe em pessoas”.
Como concluiu o sócio-diretor da Venturas Empresarial, “quem sempre faz do mesmo jeito, não pode esperar resultados diferentes”.
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